segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Osteoporose, disease mongering e prevenção quaternária

Para introduzir o tema de prevenção quaternária e disease mongering utilizou-se um dos temas mais controversos na medicina: a osteoporose. Estudos mostram que a osteoporose não pode ser classificada como uma doença, pois pode ser considerada uma consequência natural do envelhecimento.

A osteoporose é definida através do exame de densitometria óssea, com resultado menor ou igual a – 2,5 DP (desvio-padrão) do escore T (escore de densitometria de pessoas jovens), definido de forma arbitrária – não há associação entre os valores de densitometria óssea e o risco de fraturas. A osteopenia (escore T entre – 1 e – 2,5, também chamada de pré-osteoporose, foi definida de forma igualmente arbitrária. Uma em cada 2 mulheres com mais de 50 anos tem ostepenia! Um estudo holandês de 1997, publicado no British Medical Journal, mostra que a perda da densitometria óssea contribui apenas com 1/6 para o risco de fratura de colo de fêmur. Outros contribuintes são força muscular e a probabilidade de sofrer quedas. Outro estudo publicado na mesma revista, em 1999, sugere que os testes de densidade óssea não são bons preditores de fraturas e que é mais efetivo focar na prevenção de quedas.

O que pode dificultar a desmitificação da osteoporose é o grande lobby farmacêutico, responsável por financiar grupos de pacientes, exames de densitometria óssea (a Merck, primeira empresa farmacêutica a lançar medicamento para tratamento da osteoporose, financiou compra de diversas máquinas para densitometria óssea) e gastos enormes com propagandas. A media contribui com a ideia da doença osteoporose, exagerando nos benefícios das drogas e ocultando os efeitos nocivos. Em um estudo, concluiu-se que precisaria tratar com medicamentos por três anos mais de 270 mulheres com pré-osteoporose para que se pudesse evitar uma única fratura vertebral em uma mulher.

A osteoporose é um exemplo de transformação de um fator de risco para doença ou de doença desenhada para drogas. A osteoporose é, na verdade, um fator de risco (dentre tantos outros, como diminuição da força muscular e risco de quedas) para fraturas de colo de fêmur e vértebras. Entretanto, não há métodos de rastreio suficientes para se descobrir os pacientes que estão verdadeiramente sob risco maior de fraturas, nem medicamentos que poderiam diminuir esse risco de fratura. O ideal é a prevenção de fraturas através de promoção de bons hábitos de vida, como exercícios de impacto, consumo moderado de álcool, alimentação saudável, peso adequado, prevenção de quedas e cessação do tabagismo, por exemplo.

A osteoporose é um ótimo exemplo do conceito de disease mongering ou propaganda da doença, que visa alargar os limites de diagnósticos de doenças pré-existentes ou suas variantes, como criação de doenças novas – promovendo variantes do normal para doença – e apresentação de fatores de risco como doença. Por exemplo, aos 59 anos, apenas 5% das pessoas não possuem nenhum fator de risco para doença cardiovascular!

Mensagem final: Primum: non nocere (primeiramente, não fazer mal!).

Sugestão de leitura:

  • Bad Science – Ben Goldacre
  • Selling sickness – Ray Moynihan

Confira, em breve, em nossa biblioteca virtual, o material de apoio e o vídeo utilizado na última reunião.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Osteoporose e Prevenção Quaternária



A LIMFC-UFSC convida para sua 1ª reunião do semestre, nesta quarta-feira (17/08/2011), às 18h, na sala 924 do CCS, com o tema Osteoporose, apresentado pelo médico de família e comunidade português Luís Filipe Gomes.
Informamos que a liga manterá o esquema de reuniões quinzenais, às quartas-feiras.

 

 
Aguardamos sua presença,

 
               
 
Caio Manfredi e Greice Batista      Paulo Poli        Charles D. Tesser
Coordenadoria acadêmica         Orientador Médico    Prof. Responsável

 
Apoio:    
Associação Catarinense de Medicina de Família e Comunidade
Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade